quarta-feira, 5 de novembro de 2008

ATEU GRAÇAS A DEUS!


Lembro-me de uma vez, quando procurava um livro do ex-padre Aníbal Pereira Reis em um sebo no Centro do RJ. O nome do livro era: “Maria Aparecida: Outro conto do Vigário”. Estava curioso para ler e saber o que o Dr. Aníbal (como era chamado) tinha para revelar. Ao vasculhar toda a prateleira de livros religiosos, o dono do sebo me perguntou educadamente qual livro eu estava procurando. Quando eu disse o título, “Maria Aparecida: Outro conto do Vigário”, foi como se eu xingasse sua mãe. Ele disparou todo tipo de gritaria, primeiro contra a igreja evangélica, depois contra mim, contra as religiões e terminou com a célebre frase: “SOU ATEU GRAÇAS A DEUS!” Eu, na minha tolice, ainda tentei conversar, quando surgiu no meio daqueles alfarrábios um outro rapaz vociferando que Deus não existia. Eu podia ser ainda muito bobo, mas sabia que quando alguém começa a gritar desesperadamente é porque já não ouve mais nada, perdeu o controle de si mesmo. A maioria dos ateus que conheci é, na verdade, são tão crente quanto qualquer membro da I.U.R.D. O problema deles não é se Deus existe ou não, mas que ainda não conseguiram se autoconvencer de que não existe Deus, ou seja, sabem que Deus existe, mas confundem-no com a(s) religião(ões) na qual sofreram algum trauma ou decepção. Tem uns “ateuzinhos de orkut” que fazem de tudo para chamar a nossa atenção, e tem também uns menininhos evangélicos que ficam alimentando sua infantilidade atéia. Deveriam seguir o conselho do Caio Fábio, que diz: “Deixe o ateu ser ateu. É assim que é. Até que ele tenha que deixar de se distrair brincando de ateísmo, e, assim, se dês-trair em seu próprio engano.”
Todo discurso que ouço da boca dos ateus “made in TV”, orkut, blogs, etc são mais previsíveis que letra de pagode. É aquele velho argumento: “Se Deus existe por que crianças morrem de fome?” ou “Por que tantas doenças?”, ou blá blá blá.
John, guitarrista da ótima banda Pato Fu, um ateu confesso, de forma poética, caiu no mesmo erro dos orkuteiros na música intitulada Deus que diz:
“Deus está no sinal vendendo chiclete
Outro me assaltou
Levou todo o meu dinheiro
Me espetou com canivete
Deus arranhou meu carro
E bagunçou meu lixo
Deuses passam fome
A gente passa por cima
Deus é menos que um bicho
Deus mentiu pra mim
Diz que não foi ele
Outro Deus é que é o ladrão
E que tá pedindo pra ajudar
A mãe doente e dois irmão

Deus, meu Deus
Será que você
É só uma ilusão?
Não pode estar vivo
Você come lixo
Você come poluição”



Jung Mo Sung fez uma pergunta que cabe aos ateus e aos religiosos: “A morte de milhares de seres humanos, vítimas da fome e da violência: vontade de Deus ou negligência humana?”.

Por que alguém passaria tanto tempo palestrando, escrevendo, fazendo música, etc, sobre algo que não acredita?

Novamente, Jung Mo Sung em seu ótimo livro: “Deus: Ilusão ou realidade”, deixa um reflexão para crentes e ateus, muito boa. Ele fala sobre os ateus (digo, os ateus e não as criancinhas de orkut, tv, blogs, etc): “Ateu. Mas ateu de que Deus? Do deus perverso e sádico ou do Deus amor e liberdade? Hoje não basta dizer que se acredita em Deus ou que se é ateu. É preciso aprofundar a questão. Porque existem muitos que se tornaram ateus, negaram determinada imagem de Deus, para afirmar a libertação da humanidade e lutam pela justiça e pela alegria desejadas por Deus. E outros que dizem acreditar em Deus, mas negam a justiça e a paz aos seres humanos. Entre esses, é preferível ser ateu. O ateísmo de um Deus sacrificial é o primeiro passo necessário para conhecer e afirmar o Deus verdadeiro, o Deus que é amor.”

Tem muito religioso que precisa virar ateu, e muito ateu que precisa admitir que ainda crê em ídolos.

Do Ben

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