terça-feira, 2 de março de 2010


Não me lembro quando flertei com o “lado negro da força”; embora meu irmão tenha sido o cupido. Ops! “refazerei” a frase – está muito romântica: não me lembro quando fui ARRASTADO para o lado negro da força; embora meu irmão tenha dado o empurrão.

Aos 6 anos de idade, acompanhava meu irmão assistindo filmes de terror. Um hábito que ele adquiriu sei lá como. A merda é que eu passei a gostar também, mesmo me cagando de medo. Começamos com os clássicos dos anos 70. Alugávamos os filmes mais pop´s; depois, os que ninguém assistia. E para piorar, começamos a intensificar o nível de adrenalina; ou seja, colocávamos o relógio para despertar de madrugada para que o ambiente fosse mais favorável ao espanto que o tal filme produzia em nós. Devido às pesquisas do meu irmão, tivemos acesso a um filme que, diria ele, faria com que eu o assistisse de fralda; tamanha impressão que ele causaria. Quando assistimos o filme, de fato, aquilo me impressionou de tal maneira, que fiquei uma semana tendo pesadelos.

Gente boa, meu irmão!

***

Brincadeira de criança. Oh! Coisa boa. Era a onda dos carrinhos de rolimã. Eu era o assistente do meu irmão na construção desses carrinhos. Nós fazíamos um pouco de cada vez, porque nosso pai proibia que andássemos neles. Coisa boba, não é? Qual o pai que proíbe os filhos de brincar de carrinho de rolimã? O nosso, é claro! Pai malvado! Vai ver que sua proibição tinha a ver com os boatos que ele ouvia a respeito do “castelinho”. Castelinho? O que é? Bem, o castelinho é um apelido que alguém deu a uma seqüência de ladeiras que havia nas proximidades de casa. Nosso pai conhecia bem seus filhos para não permitir que, ao menos, fosse construída essa arma por nós. Papai saiu para trabalhar. Imediatamente, aprontamos o carro. Meu irmão ditava, e eu conferia:

- direção, rodas, freio...

- ok, respondendo cada item.

Aguardávamos o momento em que estrearíamos o nosso carro de rolimãs. Mal sabia eu o que me aguardava. Chegou o dia. Fomos para o local arrastando o carro pelas ruas do bairro até chegarmos na base onde milhares de garotos estavam com seus carros para subir e descer aquela sequência de ladeiras. Quando olhei a altura do tal “castelinho” - senti um fio na espinha. E para aumentar o meu medo, um garoto que descia de bruços, teve o seu carro preso por um obstáculo, continuando ele a quicar de peito pelo asfalto. Os mamilos dele, simplesmente, desapareceram! Fomos então subindo a ladeira, chegamos ao ponto alto, sentamos no carro e...descemos. Aquela sensação marcou-me a ferro pelo resto da vida. Gritava que nem um louco. Acho que nenhum parque de diversões nesse mundo me fará sentir o que senti naquele dia. Fomos para casa à noitinha.

Nosso pai estava esperando. Descobrira tudo. Apanhamos que nem vira-latas.

Gente boa, meu irmão!

***

Adolescência. Época em que o cérebro hiberna. Os hormônios, por sua conta, estão acordadíssimos.

Meu pai sempre teve uma oficina em casa. Até hoje, é o seu trabalho. Hoje, tanto quanto antigamente, seu trabalho produz sucata; embora no passado o volume de sucata era bem maior. Quando meu pai autorizava, eu e meu irmão limpávamos a oficina e separávamos a sucata em latões que, posteriormente, seriam transportados para um local de armazenagem que pagava pelo produto. Trabalho duro! Vendíamos a sucata e repartíamos o dinheiro. Lembra quando disse que adolescente tem um período de anencefalia? Pois bem, decidimos gastar esse dinheiro comprando uma playboy.

- Que idéia genial haha! Quem vai comprar? Perguntei.

- Dúvidas? O irmão mais novo é claro.

Fui ao jornaleiro, como quem vai ao corredor da morte. Estava com tanta vergonha que pensei em voltar mil vezes. Coloquei-me diante da banca de jornal que ficava de frente a uma padaria bem movimentada.

- o que foi garoto? Perguntou o jornaleiro.

Estava com tanta vergonha que não disse uma palavra, somente apontei para a primeira imagem que vi.

O cara para sacanear gritou:

- ESSA REVISTA DE PUTARIA AQUI?

Na mesma hora, todas as pessoas da padaria olharam para o garoto pálido diante da banca de jornais. Ele me deu a revista gargalhando e eu lancei o dinheiro no balcão. Corri como um félaDP para casa para me suicidar.

Somente em casa, descobri que não se tratava de uma playboy e sim de um pôster dobrado. Ainda quase apanhei do meu irmão, indignado.

Gente boa, meu irmão!

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