terça-feira, 14 de julho de 2009

SALVANDO GRACE



Alguns seriados americanos têm me surpreendido. Isto afirmo por uma questão de conveniência, porque gosto de temas que envolvam a relação da natureza humana versus natureza divina. Há um tempo atrás tinha postado um texto sobre a série Eli Stone, onde um inescrupuloso advogado tornara-se um solicito ativista em prol dos menos favorecidos; endossando tal influência benigna a misteriosas visões que tinha. Recentemente, um amigo me indicou Saving Grace; uma história que gira em torno de uma detetive de comportamento autodestrutivo, que vê a sua vida mudar quando recebe a visita de um anjo.

Os extremos desse personagem revelam uma mulher cínica, que abusa do álcool e tem prazer na devassidão, assim como quem transa com qualquer um que aparece. Até o dia em que dirigindo bêbada, Grace atropela e mata um cara e pede ajuda de Deus. E para a sua surpresa Deus realmente manda um anjo - bem esquisito, com cara de bêbado, e que masca tabaco, mas ainda sim um anjo, com asas e tudo.

Earl - o anjo - explica que se ela continuar levando a vida que leva vai acabar indo para o inferno e que essa é sua última chance de mudar as coisas. Grace começa a achar que foi um sonho e que imaginou tudo, mas procurando bem, encontra um pouco de sangue debaixo do botão da sua blusa, e descobre que é de um presidiário que está no corredor da morte há 12 anos, Leon.

Grace vai à penitenciária e descobre que Leon é o cara que ela atropelou, e também descobre que ele recebe visitas de Earl, assim como ela, e mais: na noite que ela supostamente teria atropelado Leon, ele sonhou com isso exatamente como ela havia visto. Leon também pergunta a Grace se ela já foi salva por Deus, e diz a ela que quando chegar a hora dele vai estar preparado.

A advertência do anjo parece fatalista, como os expedientes que alguns religiosos utilizam para dissuadir seus ouvintes a não irem para o inferno em troca do céu loteado. Porém, no decorrer da trama, percebe-se que o anjo – longe daquela áurea de brancura e de ser politicamente correto – insistentemente, acaba relacionando cotidiano com significado, apesar da total descrença de Grace.

Acredito que a demanda por significado acaba mudando a maneira como Grace enxerga as pessoas e os fatos cotidianos, mesmo que essa necessidade intrínseca em Grace revelada pelos diálogos com Earl não fossem percebidas imediatamente. Mesmo que a recomendação para evitar o inferno pareça clichê; uma intimação para que se mude de vida num estalar de dedos, Earl o faz com sarcasmo e ao mesmo tempo com profundidade simples, dando tempo ao tempo, acompanhando, sempre solícito, imparcial, indulgente. Tudo isso com uma boa pitada de humor.

A maneira como Earl conduz seus encontros faz com que os diálogos entre eles mostrem a longanimidade com a qual ele trata a debochada e cínica Grace. Mas Earl é resoluto. Talvez ele saiba no que isso vai dar; talvez não. Mesmo assim, Earl vai prosseguindo com sua missão.

Percebo que o objetivo desse seriado é mais do que mostrar a realidade degradada pelos desajustes sociais nos quais Grace tem que enfrentar como detetive diariamente.

Esse seriado também revela uma vontade!

A vontade de Deus revelada no seu amor incondicional por cada criatura. De um extremo ao outro. Do politicamente correto ao presidiário no corredor da morte, passando por aquele que o venere em adoração ao que lhe esbofeteia a face. Sim! Esse seriado consegue assimilar muito bem o que religiosos demoram anos para entender; se é que entenderão um dia: o amor de Deus é constante por toda a criatura – Ele não é partidário. Ele não escreve na cartilha de qualquer religião. Deus é Um e Deus é amor. E isso não muda!

E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.

Deus é amigo dos homens! Ele se reconciliou com a humanidade através da morte de Jesus. Os sinais dessa amizade são berrantes e alegóricos. São anjos de Deus se identificando conosco; pacientemente suportando nossa arrogância, deboche e ignorância. Mesmo assim, alguns querem permanecer cínicos, infelizmente.

São pessoas que se tornam anjos como Earl, alertando sem imediatismos e resultados no espectro da vida; apenas confrontando o periférico com o que é essencial, afirmando que o amor supera tudo, até o inferno.

Quando percebo alguém que se violenta através de um vício ou do egoísmo com que conduz sua vida e seus relacionamentos, são poucos os que investem tempo e amor para que essas vidas sejam tocadas pela ternura e de certa forma sejam curadas de uma cegueira que os impossibilita de enxergar ou perceber o significado que o amor produz em e através de si. Em contraste, muitos se afastam por medo de contaminar-se com a “impureza”.

Tomara que no decorrer da trama, Grace seja transformada pelo amor tanto quanto Earl cumpra sua missão.

Um abraço fraterno!

Por Márcio

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