sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Sobre medos e infernos


Às vezes, eu tento identificar o que deu errado, ou quais foram os erros que conduziram a igreja a este nível de espiritualidade? Temos uma igreja, como já sabemos, que cresce, mas cresce também o número de neuróticos, de gente que pouco ou nada pensam a respeito da sua prática religiosa. Sempre que alguém desafia a integridade ou a intenção de um líder denominado pastor evangélico, fica claro o que está no coração da maioria. E o que fica bem claro é que a maioria abre mão de questionar por medo. A frase mais usada para combater um questionador é: “Ai daquele que tocar no ungido do Senhor!”. Se alguém se atreve a questionar a eficácia ou a intenção, por exemplo, dos caríssimos programas de TV, que para ir ao ar esfolam os bolsos dos ingênuos patrocinadores motivados pelo medo, ganância (dê que Deus lhe restituirá sete vezes mais), ignorância ou, em alguns casos, boa intenção mesmo, aplica-se a tal frase, sem dó nem piedade (ou contexto).
De todas as motivações religiosas, a mais eficaz é o medo. O medo sempre foi uma ótima máquina para criar soldados religiosos. Já vi alguns que freqüentam os famosos terreiros de macumba que, mesmo contrariados, são obrigados a “arriar a obrigação” por medo do que as entidades possam lhes causar caso desobedeçam tal ordem. Com alguns crentes a coisa não é muito diferente, pois fazem as coisas mais loucas com medo do que a divindade (com “d” minúsculo) travestida de Deus possa lhe fazer, caso não obedeçam às ordens vindas das revelações dos ungidos pastores que não podem ser, de forma alguma, questionados ou contrariados. Se contrariados, o discordante logo é taxado de rebelde e lembrado que o pecado de rebelião é como pecado de feitiçaria (1Sm 15:23) e punido com a danação eterna, ou seja, inferno!
Alguns crentes, uma vez que se sentem ameaçados pelo inferno, passam a fazer tudo o que seus líderes ordenam sem questioná-los, pois não querem ser culpados de rebeldia. Eu vi este medo nos olhos de alguém da minha família quando questionei sobre a forma como o dízimo é tratado na IURD e as provas mais que concretas da ganância do Edir Macedo. Para meu espanto a pessoa me olhou com horror na face, trêmula e gaguejante me disse: “Pelo amor de Deus, não quero nem pensar nisso, deixa isso para Deus, eu só faço a minha parte.”
A maioria vive com um sentimento de obrigação, ou seja, sente-se obrigado a crer para não ir para o inferno e passam a confundir o “engolir tudo que o seu líder prega” com fé (sobre isto vou deixar abaixo um trecho do filme “Ponte para Terabítia” em que o diálogo diz exatamente isto: Quem se sente obrigado a crer acha horrível, ao passo que quem não se sente obrigado acha maravilhoso).
Acredito que a maioria faz muitas loucuras religiosas como forma de expurgar seus pecados e não irem para o inferno, e uma vez que sentem tal medo, passam a usar do mesmo veneno para recrutar novos crentes para seu exército, daí as pregações ultralegalistas que ouvimos por aí. Muitos, com o intuito de “converterem” os “ímpios”, usam com violência as ameaças de Inferno, para que o “incircunciso descrente” vire crente por bem ou por mal. Eu mesmo cresci ouvindo isso dos crentes da minha família que diziam que se eu me fantasiasse de bate-bola no carnaval eu ia pro inferno, pois precisava virar crente segundo sua crença para ser salvo. Pois é, eu mesmo cometi tal pecado, ou tais pecados, pois já ameacei alguns com a mesma danação eterna em que fui ameaçado caso não cressem como eu, e eu mesmo já pratiquei muita coisa com medo de tal danação.
Hoje repenso muita coisa e, no meu esforço de identificar as coisas que deram erradas em nossa pregação, percebi que o uso do medo foi uma das ou a pior coisa. Até hoje muitos tentam colocar medo nas pessoas para que se convertam a Deus. Ora, Deus não precisa disto, pois o que nos atrai para Ele é o Amor demonstrado na Cruz (João 12:32; Jeremias 31:3). Eu acredito no Amor e que as pessoas já sentem muitos outros medos, como por exemplo, o medo da rejeição, da solidão, etc., e não precisam de mais ameaças. Acredito que só o Amor restaura o ser. Podemos observar que, em alguns segmentos ditos cristãos, as pessoas que vivem debaixo do jugo do medo e da constante ameaça da danação eterna ou do castigo destruidor de Jeová, acabam desprezando a vida que foi dada como benção pelo próprio Deus. E para justificar tais práticas, são usados textos fora de contexto como faziam alguns religiosos da época de Cristo (Ver Mateus 15:1-9).
Reflita um pouco e procure saber qual a sua motivação em servir a Deus. Seria medo? Se sua resposta for sim, não se desespere. Procure crescer mais no conhecimento da Graça, ou Favor Imerecido de Deus e deixe-se transformar pelo convite do amado que vos chama sem ameaças, mas com uma irresistível proposta, pois inferno é uma existência sem Deus, que é amor (e muitos são os que vivem este inferno), e sem amor até o paraíso será um lugar de tormento.
Se você realmente crê em Deus transforme e deixe transformar pelo amor. Anuncie as boas novas e “boas novas” é o convite de Deus aos homens que já vivem um inferno:
“O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida.”Apocalipse Capítulo 22 verso 17.
Do Ben

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