Fiquei acompanhando a história da menina Eloá desde o começo devido a exacerbação da mídia em torno do caso. Percebi que não se tratava apenas de acompanhar com expectação os fatos e informá-los ao público - a mídia, tornou-se a grande negociadora entrementes no seqüestro. A polícia, que deveria ter a autonomia que lhe cabe para tomar decisões oriundas de todas as técnicas possíveis para tentar ajustar a situação para uma investida precisa, além do trabalho árduo e extremamente cuidadoso, teve que tornar público, como que por obrigação, todos os seus passos. É lamentável ouvir um tenente coronel da polícia de São Paulo falando como um garoto, quase intimidado pelos repórteres que trataram cirurgicamente toda retórica para arrancar qualquer nódulo de informação com a finalidade de ganhar vantagem na concorrência televisiva.
Enquanto isso nos programas da grade via-se psicólogos, psiquiatras e todo tipo de especialista avaliando o garoto que surtou e que, de repente, virou compêndio para as mais profundas análises. O que me deixa perplexo não é o seqüestro em si, mas o que fizeram dele como o mais valoroso meio de “marketear” notícias para as emissoras de televisão. Como a mídia atrapalha o trabalho da polícia! Se uma atitude é muito demorada, a polícia é incompetente. Em contraste, se ela age com um rompante impetuoso, ela não estimulou a negociação para que o menino conturbado fosse convencido da sua sandice.
Outra coisa que me assustou foi como o relacionamento de uma garota de 15 anos foi tratado como algo relevante. Horas de programação foram dedicadas à especulação do relacionamento de duas crianças como se fossem adultos. A própria motivação do seqüestro já caracteriza a infantilidade dos envolvidos. O que não se faz por uma história adornada, esteriotipada de novelinha da vida real! E isso sem dúvida inspirará os autores oportunistas nos seus futuros roteiros.
Não sou contra a atuação da mídia, pelo contrário, só percebi através desse caso como a vida de pessoas anônimas ganha tanta notoriedade e importância de uma hora para outra. Qualquer informação que agregue valor ao fatídico evento é tratado como prêmio e sobrevivência na acirrada guerra da audiência. O seqüestro em si torna-se apenas o meio pelo qual a melhor cobertura esclarecerá hiper-detalhadamente todos os fatos. Infelizmente, a máxima da competência em proteger ou divulgar não foram necessários para salvar a vida da jovem Eloá, que agora repousa incólume nos braços de Deus.
Por Márcio
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
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