sábado, 30 de agosto de 2008

No Princípio a Coisa Era Diferente...

Três Reflexões

Atos 2.41-47

"Então os que lhe aceitaram a Palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas. E perseveraram na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos, e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, a medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa, e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos."

O Crescimento

Eis a jovem Igreja de Cristo, começa bem, dá um salto, de 120 (At 1.15) para 3.000 pessoas (v. 41), é o salto que todo pastor gostaria que sua Igreja desse e, no caso da Igreja de Jerusalém, foi na segunda mensagem do pastor.

Aliás, esse pessoal era bom em crescimento, no verso 47 é dito que o Senhor acrescentava, dia a dia, salvos à Igreja; a gente não sabe quantos, mas acontecia todos os dias. O historiador conta que pouco tempo depois a Igreja já contava com quase cinco mil homens (At 4.4); some-se a isto mulheres e crianças... que crescimento!

Era crescimento mesmo, pois, era Deus quem acrescentava. Fora ficam truques de Marketing, as falsas promessas, os badulaques ungidos, e sabe Deus o que mais.

Era crescimento e não "inchamento".

Primeira Reflexão: Dá para crescer sem mistificações. Dá para crescer pregando a cruz, o arrependimento, a graça e a fé.

A Estrutura

Como será que eles suportaram um crescimento tão estrondoso sem "entrar em parafuso"? Bem, vamos fazer umas contas. Eles começaram com 120, porém, todos prontos para discipular, pois foram discipulados pelo próprio Jesus; e mais, 11 deles eram apóstolos, isto é, tinham passado por um curso especial com o Senhor, três anos intensivos, um mergulho de vida. Supondo que os apóstolos ficassem na retaguarda, cada um dos 108 restantes (não errei a conta, é que tem o Matias) teriam cerca de 28 pessoas para ajudar na vida Cristã - uma boa média! Além disso, estavam todos cheios do Espírito Santo.

Segunda Reflexão: Para crescer com solidez é preciso combinar estrutura com plenitude do Espírito Santo. Os novos convertidos precisam ser pastoreados. Sem essa combinação o que sobra é o movimento de massas.

O Pastoreio

A vida da comunidade primitiva é outra coisa digna de nota. Eles eram bons de Bíblia, eles perseveravam na doutrina dos apóstolos, isto é, perseveravam em viver o que os apóstolos ensinavam. Bom de Bíblia, não é quem a conhece de cor, é quem a vive. Saber é viver. Eram bons, também, em amizade, comunhão. Hans Bürky dizia que o Reino de Deus é um reino de amigos. Nossos irmãos do passado insistiam em cultivar amizade; afinal, irmãos estranhos entre si, irmãos que não são amigos, não tem graça. Persistiam na Santa Ceia, diariamente (aliás, tudo era diário), dá para ver como faziam questão de lembrar do sacrifício do Senhor, sem o que nada haveria. E oravam, oravam muito; entendiam o quanto eram dependentes de Deus. E o temor, que beleza! Não tinha esse negócio de dizer que Deus tem obrigações para com os seus filhos, ou o negócio de decretar, exigir... sabiam que quem se aproxima de Deus tem de ter a intimidade do filho aliada ao profundo respeito da criatura, pois, o Pai habita em luz inacessível. Não é a toa que haviam prodígios e sinais, também... num ambiente desses! Que bênção! Milagre sem "show", sem preterir o ensino; milagres que não exaltavam os apóstolos, mas, eram sinais de amor de Jesus! O comunismo cristão não era compulsório nem automático: era fruto da amizade e a distribuição era segundo a necessidade, não havia lugar para espertalhões. Duas coisas interessantes: os irmãos podiam pedir ajuda sem serem acusados de falta de fé; prosperidade era coisa para ser compartilhada e não para ser cobrada ou apresentada como prova de fé; outra coisa, oferta era para ajudar irmão. Interessante, não tinha esse negócio de investir em coisas, investia-se em pessoas. Está certo, a Igreja de Deus são as pessoas - um Deus vivo tem de ter uma casa viva. Eram alegres, singelos, gratos (louvando a Deus) - tinham consciência de que a única coisa que não pode deixar de acontecer com alguém é o encontro com Jesus, pois, as conseqüências são eternas. Depois que alguém se encontra com Jesus, tudo o mais é lucro. Era gente que não ficava olhando para sua dor de barriga, como s se fosse o centro do universo. Gente grata a Deus por tão grande salvação. Caíram na simpatia do povo. Gente que fazia bem para a comunidade onde estava inserida.

Como é que você leva três mil pessoas a viver uma vida como essa? A resposta é: de casa em casa. A igreja estava dividida (no bom sentido) em grupos caseiros e, com exceção da celebração, que acontecia no templo, tudo mais acontecia nas casas.

Terceira Reflexão:
A Igreja pode crescer sem grupos pequenos, porém, sem grupos pequenos a Igreja deixa de ser Igreja, pois o pastoreio se torna impossível. Pastorear é envolver-se com pessoas para que elas possam ser os cristãos que devem ser e viver a comunidade que devem viver. Sem comunidade o que há é movimento de massas. Sem grupos pequenos não há comunidade. É bom lembrar que os grupos pequenos eram os lugares onde o ensino, a oração, a ajuda e a Santa Ceia aconteciam. Na grande reunião a gente faz festa, mas festa não gera Igreja. Igreja acontece onde gente se encontra e se chama pelo nome.

É... NO PRINCÍPIO A COISA ERA DIFERENTE!

Por Ariovaldo Ramos

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